sábado, 12 de julho de 2008

Carniça

Franz Marc


À beira da estrada
na soleira do mundo
o cão morto
era um grito
um gemido
asfalto crucificado
pelo silêncio do céu.
A dor que lhe quebrara
a espinha
a tristeza que lhe pungira
a carne
a agonia que lhe macerara
os olhos
ninguém viu
ninguém sentiu.
Nem mesmo as pedras
os ventos
muito menos Deus
compadeceram-se
daquele urro morto.
Somente um urubu
era-lhe inteiro vida
plumagem de luto
a saciar a fome
com o pão da morte.

2 comentários:

Adrebal Lirio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adrebal Lirio disse...

Belo poema "Carniça"
Mas o tempo passa feito metralhadora
indefectível - trem de ferro!
E muitos ficam caídos no meio do caminho por onde ninguém mais passa!

Forte abraço!