Franz Marc
Sob o solcáustico
repousa
o lagarto
sobre a pedra.
Não é feita
de tempo
a dormência
do lagarto.
Ali ele permanece
sem início
sem fim.
O lagarto
acostumou-se
à pedra
tão cinza
quantoas suas
escamas.
O lagarto
é a pedra
habituado
a lutar
contra
a noite
a chuva
o ar.
O lagarto
não soube
o que foi
a vida
entretanto
sua pele
reflete
a amplidão
das estrelas.
O lagarto
é flor
que não se soube
pétala
e perfume.
É lagarto simplesmente.
Coisa que não existe
que nunca existiu.
O lagarto
poderia
ser cântico
mas é grito
tão estridente
que não se ouve.
Quem olhar o lagarto
nada verá.
Ele é nada.
Um quinhão
de poesia
tão repleto
de poesiaque se fez
silêncio.
Coisa que ninguém sente
ninguém pega.
O lagarto
é um pranto
seco
tão seco
que poderia
ser lágrima.